quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Parei

Simplesmente... Parei!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O diário de Samanta

Querido diário, faz um tempinho que não escrevo, não é!? Andei meio ocupada. E hoje não estou nada bem. Tive uma briga com a Cá. E desde já, vou avisando que a culpa não foi minha. Bem, tudo começou com um scrap que deixaram no meu orkut. Era de um rapaz que eu havia add e eu nem sei quem é esse ser. Mas enfim, ele deixou esse scrap que dizia mais ou menos isso: “oi, loirassa”, desse jeito, com dois “s”... uó. Aliás, foram vários, e isso me irritou. Afinal eu sou ruivíssima e na foto do perfil e nas do álbum isso estava mais do que claro. Fui na página dele e deixei um scrap mais ou menos assim: “oi, e eu sou ruiva”. Curta e grossa. Mesmo assim, no dia seguinte ele ainda insistia em me chamar de “loirassa” (nem teve coragem de olhar no dicionário). Me estressou. Depois daquilo, resolvi dar um jeito na situação. Fiz o que nunca tinha feito antes: pintei o cabelo de loiro. Tirei uma foto, coloquei no perfil e também pendurei no meu mural (lindo, ai ai). Mesmo assim, a história se repetiu, só mudou o adjetivo: “oi, morenassa”. Me estressei de novo e pintei o cabelo de novo. Acontece que ele não se contentou. Novas adjetivos apareceram, novos looks também. Agora é que Cá entra na história. Contei o que estava acontecendo, ela se virou para mim e disse: “Porque não ignorou ele, afinal você nunca viu esse rapaz antes na sua vida e talvez nunca o veja”. Putz! Se ela tivesse me falado antes... depois ela não quer que eu fique zangada. Pensei que ela fosse minha amiga. Mas se fosse, meu mural não estaria parecendo um arco-íris. Acredite, até azul piscina tem ali, estou vendo daqui, e nem queira saber qual foi o adjetivo que ele usou. Hoje estou fazendo tratamento capilar. Sim, detonei meu coro cabeludo e cada fio que sai dele. Ah, recentemente ele deixou um scrap: “Oi, ruivassa”. Quero morrer!
Acabo por aqui, querido diário. Tenho que ir ao salão de beleza. Uó.
by Tais Carla B. Cassemiro

domingo, 9 de dezembro de 2007

MADA

Uma sala. Dentro dela, um grupo de 16 mulheres. Uma delas se levanta.
“Oi. Meu nome é Marta. Tenho 29 anos e sou uma mulher que ama demais. Bem, faz 4 anos que estou com meu atual marido e desde que começamos a namorar ele me bate. No começo eram tapinhas de leve, mas com o passar do tempo, esses tapas viraram socos. Só que eu nunca consegui deixá-lo porque eu o amo. Uma amiga minha disse que seria bom se eu freqüentasse esse grupo e aqui estou eu... Bem, às vezes ele não me machuca, mas outras fico realmente com algumas marcas roxas, tenho que admitir. Às vezes ele chega em casa e não fala nada, vem com tudo para cima de mim. Ele me pega de jeito e é tapa para cá... tapa para lá ... para cá... ai.. para lá... ui ...ui...bate mais.. ai... não pára...ui... cachorrão... bate, bate...”
Ela gesticulava com fervor enquanto as outras 15 mulheres a observavam, umas como se se imaginassem naquela situação, outras com repulsa.
Foi então que, depois de dar pequenos tapas no rosto como demonstração, Marta parou, olhou em volta e saiu com um sorriso radiante na cara. Nunca mais voltou.

by Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Lógica

São tantos os caminhos
Nessa vida não vivida
Eis que me encontro...

Perdida!

by Taís Carla B. Cassemiro

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Dia de Chuva

Estava voltando do mercado quando começou a chover de repente. Como chovia muito parei embaixo da cobertura de uma loja de sapatos. Outras pessoas fizeram o mesmo. Dentre elas um homem alto, cabelos negros e olhos verdes. Era um verdadeiro deus grego.
Vi que a chuva não iria parar tão cedo, então aproveitei para fumar. Foi aí que notei que aquele homem me olhava. Depois de alguns minutos ele se aproximou e disse pegando o maço de cigarro:
— Me empresta seu isqueiro, por favor?
Emprestei e ele começou a conversar comigo. Enquanto conversávamos a chuva foi parando. Ele já ia se despedir quando seu maço caiu no chão. Ao se abaixar para pegá-lo, o isqueiro que estava dentro do bolso do casaco também caiu. “Te peguei. Era só desculpa para conversar comigo”, pensei. Meu ego inflou naquele momento.
A chuva parou de vez e o sol já dava o ar da graça. Ele disse tchau e quando já estava há alguns passos longe olhou para mim, apertou o isqueiro e em seus lábios eu li: “Não funciona”. Realmente não funcionou.
Dei um longo suspiro, parti para minha casa e, aos poucos, começou a chover novamente.
by Tais Carla B. Cassemiro

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

untitled

Num mundo em que todos olham para o próprio umbigo,
Me pego olhando para o meu


By Taís Carla B. Cassemiro

sábado, 17 de novembro de 2007

Sonhos que acontecem

Júlio possuía um dom: tinha sonhos do que iria acontecer. Não era uma coisa que ele controlava. Simplesmente quando sonhava (não era sempre), acontecia. Muitas vezes seus amigos duvidavam, mas ele dizia: “Eu nunca erro. Nunca!”. E não errava mesmo.
Acontece que um dia sonhou que sua melhor amiga, Sara, iria morrer. Não sabia como nem a que horas exatamente, sabia apenas que dia iria ser. Ele contou para ela, mas nem ela, que já tinha visto do que Julio era capaz, acreditou. Ele insistia desesperadamente: “Acredita em mim, por favor. Você sabe que eu nunca erro. Nunca!.”
Veio o dia que era para o sonho acontecer. Veio e já estava indo embora. E nada tinha acontecido. Júlio ficou o dia inteiro com Sara. Tudo estava na perfeita ordem. Era quase meia-noite, e os dois assistiam a um filme comendo pipoca que Sara tinha preparado, e bebendo suco que Julio havia batido. De repente Sara virou para Julio e disse: “É Julio, parece que dessa vez você erro...(tosse). Olha... só (tosse) eu aqui inteiii...ri.. (tosse)... nh...”. Não conseguiu completar a frase porque afinal de contas, Júlio nunca errava.

Nunca!
by Tais Carla B. Cassemiro

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Na esquina, eis a minha sina

Duas baratas se encontraram perto da entrada de um esgoto depois de muito tempo sem se verem. Ali mesmo ficaram horas e horas conversando: os baratos que tiveram, como as coisas não são tão baratas como antigamente, graças à globalização. Enfim, coisas muito interessantes... para baratas, é claro.
Depois de muito conversarem, uma descobriu o quão depressiva a outra era.
“Vou me matar”, dizia uma.
“Não diga isso, tudo ficará melhor”, dizia a outra.
“A vida num tem sentido”, dizia repetidamente.
“Não fala uma coisas dessas”, a outra tentava acalmar a amiga.
E continuaram com aquela discussão por muito tempo: uma com idéias suicidas, a outra tentando mostrar que a vida valia a pena. Estavam tão distraídas que nem percebiam o ir e vir das pessoas.
Foi o dia, veio a noite, e ali estavam elas discutindo. Tanto foi a insistência de uma que a outra esqueceu a besteira de suicídio. Não iria mais suicidar e tinha esperanças com relação à vida. Despediu-se da outra e agradeceu pela ajuda.
E assim ela partiu para casa; realmente estava bem melhor.
Ao dobrar a esquina, sumindo da vista da outra ...

Crack!

by Tais Carla B. Cassemiro

domingo, 28 de outubro de 2007

O culpado

A polícia deixava a mansão dos Wycliffe levando com eles o mordomo, agora algemado.
Momentos antes estavam o detetive, Sr. e Sra. Wycliffe, o assistente do detetive, os empregados e o mordomo reunidos na sala principal. Discutiam sobre o assassinato da avó de Madeleine.
— Analisei as pistas cuidadosamente, minha cara senhora. E todas foram uma a uma eliminando os suspeitos para chegar a apenas um culpado!
Todos permaneceram calados, apenas a Sra. Madeleine se manifestou:
— Então diga, detetive! Não vê que estou aflita? Diga quem assassinou minha pobre avó?
— Ora, ora, minha cara. Quem mais poderia ser?
Com dedo indicador apontou para Alfred, o
mordomo da família.
— Foi ele!
Todos o olharam surpreendidos. Madeleine perguntou aos prantos.
— Como pôde fazer isso, Alfred?
O mordomo permaneceu calado e Madeleine, vendo que não conseguiria nada de Alfred, perguntou ao detetive:
— Como chegou até ele? Alfred não tinha motivos, era tratado como um membro da família.
— Senhora, não foi muito difícil, afinal ele é o mordomo.
Nessa hora, Alfred olhou para Sra. Wycliffe e disse com um ar de Lord inglês, embora não o fosse:
— Ora, madame, por acaso é tão ingênua a ponto desconhecer que nos grandes crimes de assassinato entre famílias nobres, o culpado é sempre o mordomo? (Alfred tinha conhecimentos de muitos casos em que o assassino era o culpado – ficção ou não. Era praticamente um especialista).
Finalizou com uma risada esnobe.
Todos estavam perplexos com a frieza de Alfred.
Na cela fria e úmida ele olhava a lua cheia e pensava na vida. Pensou tanto que, de repente, sua expressão mudou.
— Mas... não foi eu!
Enquanto isso, na mansão, um sorriso de satisfação pousava nos lábios do Sr. Wycliffe.
by Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sem explicação

Meu nome é Luísa.
Tenho 27 anos.
Sou solteira.
Sou personal trainer.
Freqüento os “Alcoólicos Anônimos" há seis meses.

Meu apartamento não é muito grande, nem muito pequeno, é ideal para alguém que mora sozinha como eu. Nos últimos dias uma cena tem se repetido: Geralmente chego do trabalho e vou tomar banho. Enquanto ensaboou meu cabelo, ouço o barulho da maçaneta, que tranquei antes de ligar o chuveiro. Parece que alguém tenta entrar ou sair. Abro os olhos, uma vez fechados devido a espuma que escorre pela testa. Fecho-os novamente, estendo o braço e pego a toalha. Limpo-os e olho em direção a porta. Nada nem ninguém. Continuo a lavar os cabelos. Mas uma vez parece que alguém tenta abrir a porta. Mas não há nada nem ninguém até onde posso ver. Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha. Vou até a porta, a destranco. Pergunto se há alguém ali. Silêncio. Ando pela casa. Vazia. A porta do apartamento está trancada. Esqueço aquilo e continuo com minha rotina. No outro dia acontece a mesma coisa. Às vez sim, às vezes não: entro no banho, ouço mexerem na maçaneta, procuro por alguém. Pergunto se há alguém ali. Ninguém responde. Não há ninguém ali para responder. Foram dias assim. Pensei muito sobre essa situação.

Meu nome é Luísa.
Tenho 27 anos.
Sou solteira.
Sou personal trainer.
Voltei a beber.

by Tais Carla B. Cassemiro

sábado, 29 de setembro de 2007

Declaração

Na negra noite do que sinto

Me
De
Claro


by Tais Carla B. Cassemiro

sábado, 22 de setembro de 2007

Bang Jump

Às vezes penso em desistir, sabe?!?! Não é tão simples como parece, se é que realmente pareça ser simples. Olho tudo aquilo diante de mim. Porque não dar uma chance, porque não aproveitar a oportunidade?. Dá um frio na barriga, como se alguém fizesse cócegas aqui dentro. O vento sopra para um rumo diferente. Bom sinal? Não sei. Mal sinal? Também não sei. Mas topei pular e aqui estou eu, com uma imensidão debaixo de meus pés. Já colocaram todos os aparelhos necessários, verificaram tudo. Espero!
Medo.
Toda ato que praticamos resulta em uma conseqüência, seja ela boa ou não. Arrisco ou dou meia volta?
Suor frio.
Muita gente diz que se arrepende daquilo que não fez. Mas tem gente que se arrepende daquilo que fez.
Sem chão.
Mas depende muito do ponto de vista, e este é sempre depois de que se salta... ou não.
Vento.
Li muito à respeito de esportes radicais. Ai, não sou nenhum pouco radical!
Pura adrenalina.
Para alguns foi caminho sem volta. Equipamento que não funcionou.
Outro ângulo.

Para outros foi e é divertimento. Uma emoção a mais para a curta existência. É desafiador.
Paz.
Já desisti de várias coisas.
Volta.
Essa seria apenas mais uma.
Mãos.
Escolher sempre foi algo muito difícil para mim, principalmente quando minha vida, o rumo dela, está em jogo.
Chão.
São nesses momento que invoco Shakespeare: “Pular ou não pular, eis a questão.”
Fôlego.
Mas enfim, uma hora passa. As dúvidas somem. Mas então vem o arrependimento ... ou a satisfação.
Satisfação.

Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O tempo vai ao longe
Nem vejo, pois se esconde
Às vezes se congela, enfim...

Paciência! ecoa dentro
Paro e fico e penso
Respiro fundo: “Ai de mim”

Só aquilo que é culpado
E nem culpa tem de fato
Cura ou mata de vez

Só aquilo, e nada mais
É a certeza do que se faz
E a loucura do que se fez


SÓ para atualizar mesmo!!!

Tais Carla B. Cassemiro

domingo, 9 de setembro de 2007

A coelhinha, o velho e a anta

Um dos meus feriados favoritos no mundo todo era a páscoa. Simplesmente porque nesse dia eu me transformava no verdadeiro “Coelhinho da Páscoa”. Duas semanas antes do dia de páscoa eu já estava de férias. Tinha feito todo o serviço no trabalho para meu chefe não reclamar.
Bem, há cinco anos eu fiz questão de aprender a fazer ovos de chocolate, agora eu mesma os fazia. Tinha tudo o que precisava: do chocolate até a cestinha. Mas o melhor de tudo era a fantasia de coelho que havia comprado há uns 3 anos. Toda branquinha e macia.
Não era apenas por diversão que eu fazia o que fazia. Gostava de alegrar as pessoas, principalmente crianças. Havia uma escola de crianças carentes há alguns quarteirões de casa. E era especialmente por elas que eu bancava a coelha.
Em duas semanas eu havia dado uma arrumada na fantasia e preparados os vários ovos de chocolate.
Finalmente no domingo estava tudo pronto para o grande dia. Até as seis da tarde foi praticamente tudo rotina. Depois comecei a me arrumar, pois havia combinado com a diretora que estaria lá na escola às oito da noite para fazer uma surpresa. Coloquei a fantasia, me maquiei, peguei a cesta e a forrei com os ovos.
Era hora de ir. Apaguei a luz de casa, abri a porta que dava para a rua. Foi aí que notei os pisca-piscas das casas vizinhas. Lindos, por sinal. Tranquei a porta e quando me virei, vi um velhinho gordo, barba branca, roupa vermelha, sentado num trenó, que era puxado por nove renas. Ele gritava: “Ho ho ho... Feliz Natal!
Nesse momento parei e pensei comigo: “Como tem gente perdida nesse mundo!”
Mas enfim, não tinha tempo para ficar ali observando aquela figura. Ajeitei as orelhas e sai saltitando em direção à escola.
Tais Carla B. Cassemiro

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Circus

todos a olharam de repente
gargalhadas, quando não se sente
pensou, então, consigo:

"sim, não nego, há o riso
mas não encontraram graça
no que vem, nem sempre passa
no fundo, não acharam, não!"

e assim como um mágico,
Abracadabra: fez-se a ilusão!*

Tais Carla B. Cassemiro

* porque existem situações que viram rimas

No, Sir. No coments today

sábado, 25 de agosto de 2007

Mudança

Jorge ficou preso por 17 anos por um crime que não cometeu. Novas evidências surgiram, reabriram o caso e comprovaram a inocência do homem acusado de ter matado a mulher e os filhos.
No dia em que o soltaram, Jorge, que agora era um homem só, pois havia perdido a única família que tinha, andou durante horas pelas ruas recém molhadas pela chuva. Caminhou pensando em tudo que lhe havia acontecido. Ao sair da prisão, não sentiu um alívio ou algo parecido. Sentiu medo. Um medo que foi crescendo conforme ele andava.
Passando por um desses mercadinhos, uma idéia já vagava por sua mente. Entrou no estabelecimento. Sem raciocinar direito o que iria fazer, caminhou pelos corredores até encontrar o que procurava. Pegou o objeto, dirigiu-se ao caixa e ameaçou: “O dinheiro ou eu te mato!”. A mão, que tremia, segurava uma faca. O rapaz do outro lado do balcão levantou as mãos e tentou acalmá-lo. Um homem que fazia compra ali, vendo a situação, tentou arrancar a faca da mão de Jorge, que o viu através de um daqueles espelhos localizado no canto superior do local. Tentando impedir que o desarmasse, Jorge se virou e acabou acertando o peito do pobre homem, que agonizou por um tempo até finalmente morrer ali mesmo. Jorge largou a faca e deitou-se no chão. Nem foi preciso que lhe pedissem. Depois de um tempo a polícia chegou. Jorge sabia que não mais conseguiria ser livre. Infelizmente algo no plano não funcionou. Por outro lado, havia conseguido o que queria.
Prenderam-no novamente.
Jorge entrou na cela e se sentou. Fixou o olhar na lua cheia um pouco coberta pelas nuvens de chuva. Pensava consigo mesmo: “A mesma cela, a mesma cama, as mesmas grades, os mesmos carcereiros, as mesmas fotos penduras na parede, os mesmos desenhos feitos há muito tempo por outros presos, a mesma rotina, os mesmos livros, a mesma vista, o mesmo silêncio, a mesma solidão, a mesma incerteza...”
Baixou a cabeça, mudou o foco de seu olhar, suspirou e disse com a voz baixa:
— Apenas Jorge não é o mesmo.
by Tais Carla

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Filosofia de Vida

When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world
When the world turns its back on you...
you turn your back to the world

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Imprevisto

Samanta está na sala assistindo televisão. Veste uma camisa preta, calça preta, acessórios pretos, enfim... tudo preto. Muda de canal insistentemente. Na cara, carrega uma expressão de tédio.
De repente entra na sala Gabriela, a irmã. Totalmente o oposto. Veste um vestido de flores, bem colorido. Jovem e tranqüila (tranqüila pelo menos na maior parte do tempo). Senta-se ao lado da irmã e reclama:
“Onde está Alfred? Preciso falar com ele.”
A irmã escuta aquilo com indiferença.
“Acredita que ontem pedi que me trouxesse um copo de leite e estou esperando até hoje?”
“Será porque ...”
Nem esperou que Samanta completasse a frase e disse:
“Esses mordomos de hoje, cada vez mais folgados.”
Samanta continuava a mudar de canal. Viu que a irmã não a escutaria.
“Mas hoje mesmo converso com papai. Ele vai ter que ser mais severo. Vou pedir que o castigue de alguma forma... que desconte do salário. O que você acha?”
A irmã permaneceu calada. Gabriela prosseguiu:
“Ou que o rebaixe a jardineiro. Ou faxineiro.”
Olhou para a irmã que continuou sem dizer nada.
“Talvez ajudante de cozinheira. Ou... ou ... que, definitivamente o DEMITA!”
Essa última frase colocou com satisfação. Samanta a olhou. Gabriela, depois de uma pausa, continuou:
“Ai, fala alguma coisa!”
Samanta se levantou, deu alguns passos, virou e dirigiu-se à irmã.
“Que me importa. Ele morreu mesmo.”
Silêncio.
“Infarto. O encontraram ontem com um copo de leite na mão.”
Silêncio.
“Que foi? Nem sempre me visto assim como um estilo de vida.”
Uma lágrima de arrependimento desceu lentamente pela face rosada de Gabriela.
by Tais Carla

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Diálogo no salão de beleza

De repente entra no salão de beleza uma mulher alta, cabelos ruivos. Seu nome: Verônica. Numa das mãos carrega um bolsa pequena vermelha, na outra segura o cigarro, ainda apagado. Procura um lugar para se sentar. Encontra uma cadeira vazia ao lado de uma mulher com algum tipo de creme na cabeça.
Senta e não fala nada até que a mulher ao lado, cabelos loiros, talvez recém tingidos, unhas grandes, vira e diz:
“Acho que vai chover”.
Verônica apenas balança a cabeça e começa a mexer na bolsa a procura do isqueiro. Encontra-o e acende o cigarro.
A mulher insiste em conversar:
“Você vem sempre aqui.”
“Não preciso”, retruca Verônica friamente.
A outra desconversa:
“Acho que vou tingir meu cabelo de ruivo, assim como o seu... Ah, já viu as novas cores de esmalte? Achei divinas.”
Verônica apenas faz caras e bocas.
Ela prossegue:
“Não devia fumar, faz mal a saúde e ...”
Antes que termine a frase o celular toca, ela atende e segundos depois diz :
“Não acredito. Ai, meu Deus, eu não acredito. Eu consegui. Finalmente eu consegui. Vou para Paris. Devo estar sonhando.”
Essa ultima afirmação diz olhando para Verônica, que retruca num tom sério:
“Não está não.”
A outra:
“Só posso estar sonhando.”
“Não. Não está não.”
“Estou!”, diz sorrindo histericamente.
“Não está.”
“Paris é um sonho, meu amor. Só posso estar sonhando, entendeu?”
“Não está. Vai por mim.”
“Ai, moça, estou sim... ai ai. Isso, definitivamente é um sonho.”
Verônica se levanta, pega a mão delicada da “patricinha” (como já a havia concebido mentalmente) e apaga o cigarro lentamente. Olha-lhe nos olhos, com um ar de impaciência.
“Então, sentiu isso?... Você não está sonhando, acredite!”
Verônica olha para uma das moças que estava tendo o cabelo cortado, aponta para o relógio e sai sem olhar para trás. Os primeiros pingos de chuva começam a cair lá fora.
by Tais Carla

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Suicídio

Já fazia mais de oito meses que André freqüentava o psiquiatra, pois por qualquer coisa errada que acontecesse em sua vida, era motivo para não mais viver. Idéias de suicídio passeavam em sua mente. Apenas andavam de lá para cá, até que um dia André foi demitido. Então, resolveu transformar suas idéias em uma única ação.
Numa caixa junto aos brinquedos de seu filho (não o via há mais de onze meses, desde quando sua mulher o deixou e foi morar no exterior) havia uma arma comprada nas primeiras semanas em que as idéias começaram a perambular na cabeça. A caixa se encontrava em cima do armário. André estendeu a mão, tateou alguns brinquedos até encontrar o que procurava.
Tremia.
Partiu para uma ponte que se encontrava próxima a seu apartamento. Estava atordoado. Andava como se as pessoas soubessem do que ele estava prestes a fazer. No bolso interior do casaco ele escondia o objeto.
Não chovia. A lua cheia iluminava todo o caminho.
Finalmente chegou à ponte. Pôs-se de frente ao rio sereno.
Tremia.
Retirou a arma do casaco, fechou os olhos, apontou-a para o ouvido esquerdo, hesitou um pouco. Algumas imagens, momentos felizes e tristes, passavam em sua cabeça. Puxou o gatilho. Ouviu um barulho que em nada se parecia a um estouro: shhhhhhhhhhhh. Um calafrio percorreu-lhe a espinha.
André respirou aliviado quando viu que tipo de arma se encontrava em sua mão. Presente que deu ao filho no último natal que passaram juntos.
Voltou para casa e, naquela semana, ao invés de ir ao psiquiatra foi ao otorrinolaringologista. A dor de ouvido era insuportável.
Tais Carla B. Cassemiro

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Desvendando o mistério

Recentemente assisti a um filme em que uma jovem havia sido assassinada. Em filmes assim, tentamos desvendar o caso juntamente com a polícia (Você não? Então pare por aqui e procure outra coisa para fazer). No filme em questão, as pistas levavam para uma pessoa, BUT* (sotaque britânico) eu me perguntava: “Será que vai ser tão óbvio assim?”. Pois estava super óbvio.
Foi aí que começou a confusão na minha cabeça: “Talvez seja óbvio porque foi ele mesmo o assassino e não tem mistério algum, ou talvez seja óbvio para despistar e o assassino seja alguém totalmente inesperado, ou será que por esperar o óbvio, já o descartamos, mas o óbvio era o certo e não o mais deixa de ser porque o havíamos descartado?.”
Você está confuso? Imagine eu assistindo o filme e tentando descobrir o assassino.
Isso me levou a pensar em outra coisa: outros filmes ou novelas (gosto é gosto, fazer o quê?) em que se tenta desvendar o crime, antes era sempre o vilão o principal suspeito, mas devido a tantas repetições outros personagens começaram a surgir, até que um dia, os vilões ficaram de fora das listas de apostas. Só que ainda eles aparecem como os assassinos em alguns casos justamente por terem sidos descartados, por não serem mais óbvios. Mesmo assim, quando foi o vilão que cometeu o crime, as pessoas ficam indignadas, mesmo não tendo pensado neles, pois elas dizem: “Assim não tem graça, pois vilões nem precisam de motivos para matar, eles apenas matam”. E quando é uma pessoa inesperada alguém levanta a mão e diz: “Ah, sabia que era ela(e)”. Ninguém mais fica de fora, agora todos têm motivos para matar, mesmo sendo o mais cabeludo.
Enfim, nem vilões, nem mocinhos estão agradando. Vilão é óbvio. Mocinho agora também.
Acredito eu que o que mais conta agora não é quem cometeu o crime e sim como o fez.
Assim, escritores, roteiristas, e afins, aposto minhas fichas no crime e não no criminoso.

Ah, como acabou o filme?
Se ainda não o viu, veja-o: “Sobre meninos e Lobos” (Mystic river), direção de Clint Eastwood.
Só uma coisa: ele não apostou no crime.

*mas

Tais Carla B. Cassemiro

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Untitled

Não devia falar com quem não me ouve
Não devia ouvir quem não me entende
Não devia me importar com quem me das as costas
Não devia correr atrás de quem me deixa partir
Não devia ser eu mesma com quem não me olha nos olhos

Esse é um lado meu que não ouço,
Com quem não falo, não me importo,
Não corro atrás, não olho nos olhos,

Até o dia em que eu resolver dar-lhe atenção.


Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Não apenas uma, mas duas

Acordei com o barulho do despertador do meu celular, ao som de “One way ticket” do The darkness. Não devia ter ido à festa ontem. Escovei os dentes, penteei o cabelo, enfim, fiz o que sempre fazia antes de ir trabalhar. Depois de tomar o café da manhã, dirige-me ao estacionamento do prédio. No elevador aproveitei o espelho e “dei uma ajeitada no cabelo” e uma coisa começou a me intrigar. Bem, peguei meu carro e partir para mais um dia.
No caminho uma coisa ainda me intrigava. As buzinas do trânsito estavam começando a me deixar louca, quando finalmente cheguei ao meu destino. Enquanto pegava minhas coisas do carro uma coisa ainda me intrigava. Bem, guiei-me até o elevador.
Cumprimentei o carinha que ali estava. Ao chegar ao meu andar fui direto ao banheiro (estava muito apertada). Enquanto lavava as mãos, uma coisa ainda me intrigava.
Depois que saí do banheiro, dirigi-me ao meu escritório. Cumprimentei a Laura, o Otávio, o Pedro, a Silvia, o Oswaldo, a Priscila, a Bianca, o mocinho da correspondência, acenei para o Diego, que estava ao telefone (fazer o que se sou popular). Enfim, depois de tantos “olás” e “tudo bem?”, cheguei a minha mesa. Agora não apenas uma, mas duas coisas me intrigavam.
Fui até a janela olhar o movimento. Olhei para o meu reflexo no vidro. E duas coisas não me deixavam em paz. Duas coisas que realmente me intrigavam: afinal, porque eu ainda estava de pijamas? E pior: porque ninguém havia mencionado que eu ainda estava de pijamas?
Tais Carla B. Cassemiro
*gosto de pijamas

terça-feira, 10 de julho de 2007

Carlinhos vai ao parquinho

Lúcia estava aos berros no celular conversando com seu advogado, sentado no banco do parquinho, de onde dava para ficar de olho nas crianças que brincavam, principalmente seu filho de sete anos.
Tagarelava sem parar, quando de repente começou a falar mais alto. Estava furiosa. Seu marido havia entrado com pedido de divórcio. Saiu apressadamente pelo parquinho, ainda xingando o advogado, procurando seu filho. Quando o achou, sentado de costas, brincando na areia, pegou-o pelo braço, sem dar-lhe chance de convencê-la a ficar mais um pouco. O menino tentava fazê-la soltar seu braço, mas quando viu já estava dentro do carro indo para casa.
Lúcia reclamou o caminho inteiro, não parou de resmungar um segundo. Havia até esquecido do filho no banco traseiro, quando começou a xingar o futuro ex-marido.
Quando chegou a casa, mal desceu do carro e ligou novamente para o advogado e pôs-se a discutir com o pobre homem. Entrando em casa berrou para o filho: “Vamos, Carlinhos! Pegue suas coisas e venha logo para dentro”.
O menino permaneceu dentro do carro. Lúcia, que notou que Carlinhos não havia entrado, deixou o celular em cima da mesinha no centro da sala de visitas e voltou para o carro para tomar satisfações com o menino. Partiu em direção ao automóvel gritando: “Carlinhos, já estou cansada, fiquei a tarde inteira naquele parquinho, seu pai, aquele cachorro, aprontou mais uma... e tudo que eu peço a você é que me obedeça, mas não, você anda muito sem educação ultimamente. Chega, menino! Entra logo em casa!”
Um choro soou dentro do carro.
“Agora está chorando? Assim não dá, Carlinhos.”
Quando Lúcia viu o menino sentado no banco traseiro, ele estava com as mãos no rosto. Chorava muito. Ele enxugou uma lágrima que descia lentamente, olhou para a mulher diante de si e gritou: “Eu quero minha mãe, pode me levar até ela, tia?”.
Lúcia ficou muda.
E enquanto isso, Carlinhos ainda brincava no escorredor, seu brinquedo favorito. Nem notou o banco que agora estava vazio.


Tais Carla B. Cassemiro

*sobre o título: achei engraçado e não tinha outro me mente.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

(Pessoal)

Falta de criativiade ou seja lá o que for, tédio e mal humor (talvez não seja o nome mais adequado, mas ema... ema ... ema) são ingredientes perigosos quando misturados de forma, local e dia inadequados. Muita coisa para fazer, mas nada que realmente valha a pena, e não me venha citar Fernando Pessoa "tudo vale a pena se a alma não é pequena", porque digamos que hoje a minha alma está minúscula... coisa mínima.

Também digamos que hoje sou péssima perdedora, não que eu tenha perdido, afinal nem encontrei. "But I still haven't found what I'm looking". Nem sei o que procuro. Sei sim, afinal sempre sabemos, não é?!. É só encarar os fatos, meu filho. Não, não é texto de auto ajuda, aliás detesto texto de auto ajuda (e se estiver escrito errado, olhe no dicionário e me corrija porque eu não vou fazer isso, talvez amanhã eu faça... ou não) porque não dá para aguentar alguém que nem me conhece, dizendo o que devo ou o que não devo fazer, mesmo que seja para me ajudar.

Isso (não me faça esplicar o que é isso porque nem eu mesma consigo definir) tem motivos, causas, razões e circunstâncias (que não citarei aqui, é claro). Talvez devesse... mas penso duas vezes e não... não cito. A sequência poderia ser disastrosa.

Não diga que vai fazer se não vai fazer, por favor, minta para mim, inventa qualquer coisa, mas não quebra "promessas". Não diga só por dizer, não leva a lugar algum, ou leva, mas talvez não tem volta.

Mais uma coisa: não use máscaras comigo, porque eu também tenho e sei como usá-las.

Mais uma coisa: há um lado meu (esse não nome tem) que eu não gosto, realmente me incomoda. Espero das pessoas aquilo que eu faria (acho que não sou a única), mas elas não são como eu e nem sempre agem da forma que espero.

Sou com você assim com você é comigo.

Pense duas vezes antes de me dar as costas.

"O que ou quem provocou esse texto está em mim e em mais ninguém" (ninguém disse isso antes de mim mesma, só para informar, porque às vezes as coisas surgem... num entendeu ainda??? ... é meu!!!!!!!!!!!!! assim como "tudo vale a pena se a alma não é pequena" é do Fernando Pessoa - sim, eu tenho mania de dar explicações, aliás, tenho que me segurar para num colocar uma nota explicando cada construção de meus textos)

esse texto é pessoal... desabafo? se quiser chamar assim ema... ema... ema...

ía bloquear comentários, mas afinal de contas, hoje não me importa para que lado vou olhar primeiro (se quiser que eu explique essa "coisa de que lado vou olhar primeiro" que acabei de escrever... envie um recado para o meu email)

domingo, 24 de junho de 2007

Vida Alheia

Tony levantou-se apressadamente, fez o que tinha que fazer e partiu para mais um dia de trabalho. Dirigiu-se ao térreo do prédio, pegou a bicicleta, o capacete, as joelheiras e as cotoveleiras – iguais aos que os atletas usam em atividades esportivas – e foi trabalhar. Era uma longa caminhada. Chegou à empresa que trabalhava. Cumprimentou a todos que encontrava pelo caminho. Olhavam-no com olhar de estranheza. Seguiu para sua sala. Chegando lá, sentou-se em sua mesa. O telefone tocou: era a secretária.
— Doutor Roberto, a Sra. Verônica deseja lhe falar. Posso transferir a ligação ou digo que está ocupado?
Ainda ouvia-se a secretária chamando-o pelo telefone quando Tony caminhou até a porta e lá leu numa placa prateada gravado em preto “Dr. Roberto Nimes”. Tony retornou à mesa, colocou o telefone no gancho e foi embora, cabisbaixo.
Passou pelas pessoas que haviam cumprimentado quando chegou. Estava muito envergonhado. Entrou no banheiro tentando se esconder. Quando olhou no espelho, viu o reflexo de um homem com o cabelo penteado, boa aparecia, mas usando um pijama azul claro com bolinhas vermelhas – presente de sua mãe. Não podia ficar o dia todo naquele banheiro. Então resolveu sair de uma vez. Pegou a bicicleta, o capacete, as joelheiras e as cotoveleiras que estavam no térreo do prédio da empresa e pôs-se a pedalar lentamente.
No meio do caminho a corrente quebrou. Teve que empurrar a bicicleta.
Ao longe se via surgindo a figura bizarra de um homem de pijama azul claro com bolinhas vermelhas, usando um capacete, joelheiras e cotoveleiras, empurrando uma bicicleta.
Quando chegou ao prédio, Roberto o esperava. Tony entregou-lhe os equipamentos retirou-se para seu apartamento. Lá, sentou no sofá que estava virado em direção a janela. Ficou sentado com o olhar fixo e com o pijama azul claro com bolinhas vermelhas.
Tony era síndico do prédio. Nutria uma admiração inexplicável pelo Dr. Roberto Nimes, advogado durante a semana e atleta nas horas vagas. Desejava ter uma vida diferente.
Era a segunda vez naquela semana que Tony acordou Roberto e foi dormir Tony novamente, mesmo não estando com sono.

Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Onde estarão?

O alarme soou ao longe e o pânico se espalhou como uma praga.

O branco demonstrava o caos que se estabelecera.

Como andam lado a lado, sumiram juntas durante uma noite de pesadelos.

Desde tal noite sem lua, não foram vista em parte alguma deste corpo que vos fala.

Corpo que vos fala?

Sim!

Um dia, melhor dizendo, uma noite, partiram sem deixar pista.

Acreditem, verifiquei. Não há mesmo. Mesmo!

Onde estarão???

Quem???

Minha Criatividade e minha Imaginação, oras!

Caso as encontre, entre em contato.

Agradeço toda ajuda.

E recomendo que não tente usá-las. Elas não funcionam fora de condições apropriadas e podem causar danos permanentes.

Até que ambas não retornem este local (blog) estará
EM MANUTENÇÃO POR TEMPO INDETERMINADO!

domingo, 10 de junho de 2007

Imaginação

Tommy era um garoto pequenino. O cabelo era negro como a noite e os olhos verdes como a grama num dia de primavera. Mas o que mais chamava a atenção em Tommy era que, diferentemente das outras criança, ele não tinha imaginação. Por isso, outros garotos de sua idade não viam graça em brincar com ele.
Aconteceu que um dia, ao entrar na cozinha para tomar o café, era como se tivesse entrado num outro universo. Pensou estar no céu. Estava deslumbrado pela sensação que aquele ambiente lhe causava. Parecia ser um mundo mágico. Aquele cômodo estava claro, branquinho como nunca esteve antes.
Tommy se iluminou: “Só posso estar imaginando. Deve ser assim que isso funciona.”
Para confirmar sua teoria, correu até sua mãe e perguntou: “Mamãe, tem alguma coisa nova na cozinha?”
A mãe, que arrumava as coisas para ir trabalhar, respondeu: “Não há nada diferente lá. Por que...?”
Tommy saiu correndo para cozinha. Tudo parecia brilhar. Brilhava. Sim, havia algo diferente naquela cozinha e havia sido criado pela sua imaginação.
Foi para escola e quando retornou, deixou suas coisas pelo caminho e foi até a cozinha. Estava do mesmo jeito. Era o céu, e ele talvez um anjo.
Tommy estranhou por um momento, pois somente a cozinha ficava diferente. Tentou fazer o mesmo com outros cômodos da casa, mas nada acontecia. Contentou-se: “Vai ver essa coisa de imaginação funciona aos poucos.”
O dia inteiro ele entrava e saía da cozinha. Como estava feliz! Agora seus amigos não o esnobaria. Quando a mãe chegou do trabalho, encontrou Tommy na cozinha com um brilho no olhar e um sorriso enorme no rosto.
“O que aconteceu para estar tão feliz assim?”
“A cozinha, mamãe! A cozinha!”
“Ah, sim. Lembrei de uma coisa: de manhã você me perguntou se havia algo diferente na cozinha. Tinha me esquecido que pediram para seu pai testar esta nova lâmpada. Ela tinha que ficar o dia todo acessa, porque ouve muitas reclamações lá na empresa. Num é legal essa lâmpada? É um tipo novo. Ilumina mais que as fluorescentes. Custam um absurdo. Iluminam mesmo, não é? Parece até que estamos no céu.”
A campainha soou. A mãe se retirou para atender. Tommy permaneceu ali, decepcionado. Um lágrima escorreu até o canto da boca que não mais formava um sorriso. Ficou ali, em estado de choque. Imaginando seus amigos apontando na cara e rindo. Imaginando-se um adulto frustrado. Imaginando como a vida seria diferente se soubesse imaginar. Imaginando como seria bom ter imaginação. Imaginando, sem perceber que imaginava.


Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Destino errado

Entrei no ônibus com um sensação estranha. Enquanto procurava meu acento, ouvi uma senhora (que falava muito alto, por sinal), dizer para a que estava a seu lado: “estou indo para cidade 'tal', você conhece?”. Ela nem esperou a outra responder (e bem que ela insistiu, pois parecia ter algo importante para dizer, mas não adiantou nada) e continuou a tagarelar. Sentei-me tentando absorver o que ela havia dito. Aquilo me intrigou. Afinal se ela estava indo para a cidade “tal“, quando o ônibus chegasse a um ponto ele seguiria outro rumo, logo, não iria para onde eu achava que estava indo (“meu destino”). Pronto. A sensação ruim vinha daí: tinha embarcado no ônibus errado. O motorista, não lendo minha passagem corretamente, não percebeu.
Nisso o ônibus já estava na estrada. Sim, entrei em pânico. Meu coração estava acelerado. Não me mexia. Já imaginava a situação constrangedora: eu me levantando, gritando para o ônibus parar, tropeçando na mala, todo mundo olhando para mim e alguém dizendo: “que idiota, como ela conseguiu pegar o ônibus errado?”.
Mas enquanto eu imaginava um reação que talvez nunca aconteceria, o ônibus havia chegado no ponto onde eu teria a confirmação do meu erro. Meu corpo já foi virando sem mesmo o automóvel fazer a curva. Aliás, ele não fez a curva. Continuou pelo caminho de sempre. Mal eu soltei o fôlego, aliviada, aquela senhora, que não havia se calado por um instante (sim, eu ainda a ouvia enquanto avaliava minha situação), levantou-se e ficou muda por um momento (que para ela era muito). Mas logo se pôs a gritar: “Motorista! Motorista! Pára o ônibus!”.
Desesperada ela pegou seus pertences e dirigiu-se apressadamente para a frente, nisso tropeçou numa das malas. Todo mundo a olhou, inclusive eu. Não sei se ouvi ou se foi minha imaginação, mas uma voz soou: “que idiota, como ela conseguiu pegar o ônibus errado?”


Tais Carla B. Cassemiro

domingo, 27 de maio de 2007

Desencontro

Passei sem me notar
Não olhei querendo olhar
Fiz de conta não amar
Senti meus pés no chão
Passou sem se notar
Não falou querendo falar
Fez de conta não amar
Não ouviu o coração
Passaram sem se notar
Não amaram querendo amar
A rima muda para finalizar
O que foi dito até então


Fez-se de ambos alma triste e coração partido
Pois não só o tempo, que passou, foi perdido


By Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 17 de maio de 2007

O mundinho de Lisa

Lisa vivia num mundinho totalmente seu.
Nele não havia suco de limão sem açúcar, mosca na sopa, bichinho na goiaba e nem salada de jiló. Não havia hematomas, nem bicicleta sem rodinhas, nem casca de banana para escorregar. Não havia Frankstein, nem Drácula, nem Lobisomem muito menos Bicho-Papão dentro do armário. Não havia lagartas, somente borboletas. Não havia sapos, somente príncipes encantados. Não havia pesadelos, somente sonhos com carneirinhos pulando a cerca. Não havia o cachorro que acabava de rolar na lama e pulava em cima do colo, bem quando estava usando a roupa predileta. Não havia bola de chiclete que estourava e grudava no cabelo. Não havia meninos que detestavam meninas, nem meninas que se exibiam a cada roupa nova. Não havia bronca do pai ou castigo da mãe. Não havia aquela música que fazia chorar, nem aquela música que era horrível mas era a que ficava na cabeça o dia inteiro. Não havia beliscão, nem tapa, nem chute na bunda. Não havia guerra de travesseiro nem de comida. Não havia macarrão com bastante molho para se lambuzar, nem sorvete que derretia ou chocolate que caía na roupa. Não havia soluços tão intermináveis que era preciso tentar várias artimanhas para fazê-los parar e mesmo assim não paravam. Não havia irmão ou primo mais novo que mostrava a língua e puxava o cabelo. Não havia gripe que fazia o nariz escorrer e os olhos lacrimejarem. Não havia saudade pois todo mundo estava ali. Não havia espirros incessantes que fazia o nariz ficar parecido com um enorme morango. Não havia saia rasgada enquanto pulava a cerca tentando escapar do cachorro do dono do pé de jabuticaba. Aliás, nem havia pé de jabuticaba. Não havia dente mole para amarrar um barbante, prender na porta e esperar alguém abrir. Não havia programa de televisão idiota para mudar de canal. Não havia pernilongo que ficava cantando a noite toda no seu ouvido. Não havia ninguém tão mal capaz de explodir o seu mundinho perfeito.
Resumindo: o mundinho de Lisa era um tédio.
By Tais Carla B. C.

domingo, 13 de maio de 2007

Dois minutos

Estela acordou bem cedo, tomou banho para despertar, vestiu-se e partiu para mais um dia - sua vida era uma rotina. Desceu pelo elevador - morava no sétimo andar. Entre o quinto e quarto andares, um susto: o elevador parou. Olhou para o relógio: marcava 7:46h da manhã. O elevador voltou a funcionar, sentiu um alívio. Chegou ao térreo, cumprimentou o porteiro, entrou no carro e seguiu para o trabalho. Tinha que pegar a priminha - como prometera a tia - e levá-la à escola. Deixou a menina onde sempre deixava e finalmente foi trabalhar. Era secretária.
Mal sentou na cadeira, o telefone já tocou. Esse foi o primeiro de muitos. Fazia um ano que exercia essa função e o barulho dos telefones - haviam três - estava começando a abalar seus nervos. Seu chefe era um homem muito ansioso que exigia rapidez. Estela não tinha tempo nem para um cafezinho. Só descansava mesmo na hora do almoço - isso quando não tinha que fazer algo em algum lugar no “quinto-dos-infernos” para o “chefinho querido”. Dois minutos que ela pensava em parar, era um dia a mais que ela gastaria para fazer tudo o que tinha que fazer.
Fim do dia. Foi embora, pegou a priminha, levou-a para casa da tia e finalmente voltou para seu apartamento. Estacionou o carro na garagem do edifício, cumprimentou o porteiro, subiu pelo o elevador. Entre o quarto e quinto andares, outro susto: o elevador parou novamente. Voltou a funcionar. Estela notou que ele não mais subia e sim descia. Quando ela olhou no relógio, ainda era 7:48h da manhã. Apenas dois minutos haviam se passado. Ela ainda tinha um dia todo pela frente.


By tais Carla B. C.

domingo, 6 de maio de 2007

Sono de Inverno

É muito difícil - para não dizer impossível - saber o que se passa na cabeça de uma pessoa, mesmo ela sendo previsível.
Júlia não gostava do inverno desde que lhe haviam quebrado o coração.
Na primeira noite dessa estação fria, Julia conheceu Rômulo. Amor à primeira vista. Conforme os dias foram se passando, eles se conheceram melhor e ficaram mais íntimos. Pura ilusão. Antes mesmo que o inverno acabasse o amor de Rômulo por Julia chegou ao fim - talvez nunca tenha começado. Desde então, essa época do ano só trazia lembranças amargas a jovem garota.
Júlia resolveu excluir o inverno de sua vida. Sempre que se iniciasse essa estação ela dormiria um sono profundo.
Na primeira noite antes do inverno, ela se preparou para dormir. Dormiu tranquilamente, mas no outro dia, logo de manhã, já estava acordada. Passou o inverno todo frustrada e deprimida. Nas três estações que se seguiram ela tentou encontrar um modo de dormir intensamente. Tomou remédios, chás... enfim, tudo que achava que a manteria dormindo por um longo tempo.
Foram três invernos que ela sofreu, pois nada funcionava. Dormia uns dois dias seguidos, mas depois que acordava era mais dois que não conseguia dormir. Com a idéia fixa em sua cabeça, Julia foi ficando com os nervos abalados. Ficava horas no quarto sozinha. Mantinha distância de todos. Estava inacessível e mentalmente perturbada.
Um dia, enquanto observava o jardim de sua casa pela janela do quarto, sentiu um vento gélido sobrar anunciando a chegada do inverno. Teve uma idéia ao olhar para a lua.
Foi até a cozinha, no fundo do armário pegou o que precisava, encheu um copo com água e foi para o quarto a passos surdos. Vestiu a camisola que mais gostava, deitou-se na cama, ajeitou as cobertas, pegou o copo e bebeu. A expressão de seu rosto demonstrava o amargor. Recostou a cabeça no travesseiro, fechou os olhos. Em seu rosto havia a aparência de um desejado descanso. E finalmente Julia dormiu, não só naquele inverno mas também nos outros que se seguiram.


Tais Carla B. Cassemiro
- só para reforçar: todos os textos desse blog são de minha autoria

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Marilama

Na minha sala havia uma garota que se chamava Mariana. Ela tinha cara de “cú” (não queria usar nenhum termo pejorativo no meu texto, mas não encontrei termo melhor para definir sua cara). Ninguém a suportava, ela era uma verdadeira “patricinha”. Era esnobe por natureza. “Sou fina, sou chique”, repetia várias vezes. As únicas pessoas que costumavam andar com ela ou eram interesseiras ou “farinha do mesmo saco”.
No seu aniversário, para cuja festa quase ninguém da escola havia sido convidado, Mariana ganhou de seu rico pai uma linda presilha com brilhantes. Ela ficou mais esnobe ainda, se é que era possível. Ficava desfilando para cá e para lá com seu presente “mais brilhante que uma estrela”, como ela mesma costumava dizer.
Um dia fomos visitar uma fazenda. Todos foram obrigados a ir, inclusive Mariana, que detestou, é claro. Ali havia vários animais como galinhas, patos, cavalos, pássaros e porcos.
No terceiro dia enquanto passeávamos pela fazenda sem nenhum dos professores por perto, um dos meninos, aquele que já foi várias vezes fazer uma “visitinha” ao diretor, irritou-se com Mariana quando ela apontou para uma vaca e disse em voz alta: “O que sua mãe está fazendo aqui?”. Ele pegou a presilha de seu cabelo e arremessou-a longe. A presilha vôo e caiu no chiqueiro onde havia cinco porcos.
Mariana gritava e amaldiçoava todos que riam ao seu redor. Ninguém se dispôs a pegar o acessório, então ela mesma o fez. Tirou os sapatos “importados de Paris, porque sou chique”, segurou a barra de seu vestido “feito por um famoso estilista, porque sou chique” e foi pegar seu presente. Levemente ela pisava na lama, fazendo uma cara de nojo (aliás, isso ela fazia muito bem), e torcia para que nenhum porco encostasse-se a ela. Mas, de repente ela espirrou e assustou o porco menorzinho que correu em sua direção fazendo com que ela caísse com a cara na lama (para não dizer em outra coisa). Todos gargalhavam, sentido um enorme prazer com a cena que viam. E ela permanecia caída na lama com a cara toda suja.
Para mim esse foi o único momento dos quatro anos que estudamos juntas que, o que ela era por dentro, igualou-se ao que ela era por fora. Realmente chique... chiqueiro.*

By Tais Carla B. C.
* algumas (poucas) personagens de meus textos são baseados em pessoas que eu conheço, mas meus textos dificilmente serão baseados em histórias reais**
** se estou mencionando isso é porque a personagem dessa história foi baseada em alguém que eu conheço (ha ha ha)
"todos os textos desse blog são de minha autoria, se acaso utilizar algum, reconheçam isso mencionando meu nome ao final dele"

domingo, 15 de abril de 2007

(Falta de) Memória

Bianca sempre teve problemas com a memória, melhor dizendo, com a falta dela. Como iria se casar e não queria que esse seu “probleminha” atrapalhasse o seu grande dia, comprou uma agenda cor-de-rosa, “super cheguei”, como ela mesma dizia, e anotou todos os seus compromissos: manicura, cabeleireiro, prova do vestido, ensaio... enfim, tudo.
Com a semana agendada nada poderia dar errado, mas deu. Na segunda ela foi provar o vestido, mas se perdeu no meu do caminho e foi parar do outro lado da cidade, na terça ela foi escolher os docinhos, a mulher disse que ela havia se equivocado, pois não era o dia certo, e de consolo deixou que ela levasse alguns doces, na quarta ela acordou naqueles dias e resolveu não fazer nada, na quinta ela não olhou na agenda e acabou se esquecendo do que tinha que fazer, na sexta ela já estava ansiosa: “O casamento é amanhã e eu não fiz nada direito até agora, nem vi meu novo, parece que só eu estou empenhada em fazer esse casamento acontecer, mas hoje eu acerto”.
Foi até o cabeleireiro e, chegando lá, descobriu que o casamento era dali um mês. Arrasada ela foi para casa chorando, abriu a geladeira, pegou vários dos docinhos que seriam servidos no seu “casamento dali um mês” e lá, bem ao lado do bem-casado, achou uma outra agenda, só que vermelha “cheguei”, e anotados nela estavam todos os seus compromissos marcados para daí a quatro semanas.
Bianca acabou não se casando no dia marcado, pois havia escolhido realizar a cerimônia na praia, onde ela e seu noivo haviam se encontrado pela primeira vez, e não na igreja, onde ficou sentada sozinha se perguntando onde estariam todos.
by Tais Carla

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Acidente na rua 33


Amanda não conseguiu dormir a noite inteira. Quando o alarme do despertador tocou fazendo um barulho estridente, viu que havia travado uma luta inútil com a insônia. Eram sete horas da manhã, abriu a janela do seu apartamento - mora no sétimo andar – e viu o dia lindo que fazia lá fora. Acabou se atrasando, talvez por ter se distraído com a vista. Melhor dizendo, talvez porque o mundo parecia estar numa velocidade não correspondente com a sua.
Noites mal dormidas acabam com Amanda.
Pegou suas coisas, colocou na mochila. Como não tinha tempo para tomar o café, pegou uma maçã para comer no caminho. Entrou no carro e partiu. O trânsito já estava péssimo. Na rua 33, deparou com um semáforo fechado.
Parou.
Num dos carros ao lado, um rapaz que não parecia ter mais de trinta anos gritava ao celular. Não ouvia nada do que dizia. Só via sua expressão e os movimentos bruscos que fazia batendo insistentemente no volante.
Tudo acontecia devagar.
Ooo muunnndo pareeee...cia est..aaaar em ... mmee ...raaa lee..een..taaaa.
O semáforo abriu, buzinas soaram. Amanda acelerou ainda olhando para o rapaz que estava estressado logo de manhã e, quando realmente voltou o olhar para frente, uma jovem que pedalava uma bicicleta tão vermelha quanto a maçã que acabou esquecendo de comer, entrou na frente do carro. Amanda freou. Colocou as mãos na frente do rosto num impulso de se proteger.
Fechou os olhos.
Segundos depois, quando os abriu novamente, Amanda estava estirada ao lado do carro. Seu corpo doía.
A porta do automóvel se abriu e a jovem que ela achava ter atropelado, saiu e foi até ela. Parecia estar desesperada, dizia algo que não conseguia compreender. Tudo estava tão confuso. Pessoas juntavam-se ao seu redor.
Ela se levantou e caminhou tentando entender o que havia acontecido.
A cor favorita de Amanda é vermelha e ela sonha em ter um carro desde a primeira vez que andou em um.
*


By Tais Carla B. C.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Ameixas



Acordei lá pelas oito horas da manhã. Chovia. Precisava ir ao mercado. Vesti-me, peguei a chaves do carro e sai. Cheguei ao mercado e peguei um carrinho. Caminhei pelos corredores quase vazios procurando o que precisava. Na parte de frutas e verduras, me deparei com lindas e vermelhas ameixas que pareciam estar suculentas. Peguei algumas. Pesei. Coloquei no carrinho. Ainda caminhei mais um pouco pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Quando dei por mim, me encaminhava em direção ao caixa com um carrinho quase vazio, não fosse pelas ameixas. Paguei e voltei para casa. Coloquei as frutas na mesa e, quando me sentei para tomar café, percebi que não havia nem manteiga, nem leite, nem pão, nem chocolate em pó. E me lembrei que não gostava de ameixas.

by Tais Carla




segunda-feira, 19 de março de 2007

Sophie



Sophie era uma linda menininha de olhos negros e cabelos loiros. Olhava o mundo com um olhar sutil. Sentia a vida de um jeito peculiar. Experimentava cada momento a seu modo.
Foi lá pelos seus cinco anos que passou a acordar seus pais todas as noites. Passou a acreditar em fantasmas. Aqueles que assombravam as histórias que sua mãe contava antes de dormir. Sim, contava, porque depois do primeiro pesadelo, suas histórias ficaram restritas a contos de fadas.
A noite ia caindo, Sophie caminhava examinando minuciosamente cada parte da casa até o quarto. Não mais ia só. Olhava embaixo da cama. Deitava. E pedia para não deixá-la sozinha. Seus pais diziam e repetiam: “Fantasmas não existem”. Adormecia. Despertava ao menor barulho. Via-se só. Chorava e lá estavam seus pais. “Fantasmas não existem”, insistia a mãe. E toda noite era sempre assim.
Passou algum tempo e Sophie se acalmou. Não chorou mais. Parecia que finalmente havia entendido que fantasmas eram apenas truques de sua mente, que não passavam de pura fantasia. Assim pensavam seus pais.
Então por que Sophie ainda carregava um olhar de espanto? Por que ainda trazia a coberta até a ponta do nariz e espionava tudo com um enorme pavor?
Eles ainda estavam lá. “Nunca vão embora”. Era o que Sophie repetia insistentemente para si mesma. “Nunca vão embora”.
Aos olhos de todos que a conheciam, ela parecia ser a mesma garotinha quieta que andava pelo jardim como se estivesse explorando um universo somente seu.
Com o passar do tempo, Sophie se conformou. “Nunca vão embora”. Os fantasmas, fantasias ou não, tornaram-se um companhia constante. Faziam parte de seu universo. Ela não mais os encaravam como ameaças. Dizia: “Fantasmas-anjos”.
Sophie cochichava sozinha pelos cantos da casa. Assim acreditavam todos. Mas Sophie não estava só. Nunca esteve. “Vou brincar com eles” dizia Sophie. “Com quem?” questionava a mãe sem obter uma resposta, pois Sophie logo desaparecia. A mãe olhava pela janela da cozinha e avistava a pequena garota brincando por entre as flores do jardim. E estranhava o fato de não haver ali ninguém mais. “Coisa de criança”, pensava consigo mesma.
Sophie perguntava para a mãe: “Posso brincar com eles, mamãe?”. E a mãe, que encarava aquilo como brincadeira, respondia: “Desde que brinquem no jardim”. E de longe Sophie retrucava: “Quero brincar no jardim para sempre”. E todos os dias a cena se repetiu, exceto numa manhã de primavera. “Eles vieram me buscar e disse que eu tenho que ir”. A mãe dizia: “Eu deixo você ir, mas não saia do jardim”. E a garotinha respondia: “Quero brincar no jardim para sempre”
Na tarde daquele mesmo dia Sophie adoeceu. Veio o médico. Examinou. Não deu esperanças.
Sophie dormia quando ouviu sua mãe soluçar ao seu lado. Olhou-a nos olhos e sussurrou “Eles vieram me buscar e disse que eu tenho que ir”. “Eu deixo você ir, desde que não saia do jardim”, disse a mãe involuntariamente.
Dias depois Sophie morreu.
A mãe, que mal dormia, levantou-se da cama enquanto ainda o sol nascia. Sentou-se na escada da varanda e ficou olhando para o jardim que parecia mais belo do que nunca.
Veio o vento e com ele o doce cheiro das rosas que sua filha tanto admirava. Fechou os olhos. Era como se Sophie estivesse ali. Quando os abriu, algo fez seu coração acelerar. Não sabe se foi um truque de seus olhos, mas por um instante ela jurou ter visto Sophie correr por entre as flores, que balançavam. E ao longe ela ouviu uma voz de menina dizer: “Quero brincar no jardim para sempre com os fantasmas-anjos”.


by Tais Carla
(pintura: "delicate balance" Greg Olsen 1994)

sábado, 17 de março de 2007

Acostumar-se


Acostumar-se é simples. Acostumar-se é difícil. Acostumar-se não é para mim, é para os outros. Acostumar-se requer tempo. Às vezes nem percebo e já me acostumei. Às vezes quando me acostumo, acaba. Às vezes quando acaba, ainda não me acostumei.
Às vezes, penso que não vou me acostumar, e me acostumo. Às vezes, penso que vou me acostumar, mas não me acostumo. Acostumar-se faz parte da vida. Acostumar-se não depende apenas de mim. Eu me acostumo. Eu não me acostumo. Talvez. Talvez não.
by Tais Carla