domingo, 24 de junho de 2007

Vida Alheia

Tony levantou-se apressadamente, fez o que tinha que fazer e partiu para mais um dia de trabalho. Dirigiu-se ao térreo do prédio, pegou a bicicleta, o capacete, as joelheiras e as cotoveleiras – iguais aos que os atletas usam em atividades esportivas – e foi trabalhar. Era uma longa caminhada. Chegou à empresa que trabalhava. Cumprimentou a todos que encontrava pelo caminho. Olhavam-no com olhar de estranheza. Seguiu para sua sala. Chegando lá, sentou-se em sua mesa. O telefone tocou: era a secretária.
— Doutor Roberto, a Sra. Verônica deseja lhe falar. Posso transferir a ligação ou digo que está ocupado?
Ainda ouvia-se a secretária chamando-o pelo telefone quando Tony caminhou até a porta e lá leu numa placa prateada gravado em preto “Dr. Roberto Nimes”. Tony retornou à mesa, colocou o telefone no gancho e foi embora, cabisbaixo.
Passou pelas pessoas que haviam cumprimentado quando chegou. Estava muito envergonhado. Entrou no banheiro tentando se esconder. Quando olhou no espelho, viu o reflexo de um homem com o cabelo penteado, boa aparecia, mas usando um pijama azul claro com bolinhas vermelhas – presente de sua mãe. Não podia ficar o dia todo naquele banheiro. Então resolveu sair de uma vez. Pegou a bicicleta, o capacete, as joelheiras e as cotoveleiras que estavam no térreo do prédio da empresa e pôs-se a pedalar lentamente.
No meio do caminho a corrente quebrou. Teve que empurrar a bicicleta.
Ao longe se via surgindo a figura bizarra de um homem de pijama azul claro com bolinhas vermelhas, usando um capacete, joelheiras e cotoveleiras, empurrando uma bicicleta.
Quando chegou ao prédio, Roberto o esperava. Tony entregou-lhe os equipamentos retirou-se para seu apartamento. Lá, sentou no sofá que estava virado em direção a janela. Ficou sentado com o olhar fixo e com o pijama azul claro com bolinhas vermelhas.
Tony era síndico do prédio. Nutria uma admiração inexplicável pelo Dr. Roberto Nimes, advogado durante a semana e atleta nas horas vagas. Desejava ter uma vida diferente.
Era a segunda vez naquela semana que Tony acordou Roberto e foi dormir Tony novamente, mesmo não estando com sono.

Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Onde estarão?

O alarme soou ao longe e o pânico se espalhou como uma praga.

O branco demonstrava o caos que se estabelecera.

Como andam lado a lado, sumiram juntas durante uma noite de pesadelos.

Desde tal noite sem lua, não foram vista em parte alguma deste corpo que vos fala.

Corpo que vos fala?

Sim!

Um dia, melhor dizendo, uma noite, partiram sem deixar pista.

Acreditem, verifiquei. Não há mesmo. Mesmo!

Onde estarão???

Quem???

Minha Criatividade e minha Imaginação, oras!

Caso as encontre, entre em contato.

Agradeço toda ajuda.

E recomendo que não tente usá-las. Elas não funcionam fora de condições apropriadas e podem causar danos permanentes.

Até que ambas não retornem este local (blog) estará
EM MANUTENÇÃO POR TEMPO INDETERMINADO!

domingo, 10 de junho de 2007

Imaginação

Tommy era um garoto pequenino. O cabelo era negro como a noite e os olhos verdes como a grama num dia de primavera. Mas o que mais chamava a atenção em Tommy era que, diferentemente das outras criança, ele não tinha imaginação. Por isso, outros garotos de sua idade não viam graça em brincar com ele.
Aconteceu que um dia, ao entrar na cozinha para tomar o café, era como se tivesse entrado num outro universo. Pensou estar no céu. Estava deslumbrado pela sensação que aquele ambiente lhe causava. Parecia ser um mundo mágico. Aquele cômodo estava claro, branquinho como nunca esteve antes.
Tommy se iluminou: “Só posso estar imaginando. Deve ser assim que isso funciona.”
Para confirmar sua teoria, correu até sua mãe e perguntou: “Mamãe, tem alguma coisa nova na cozinha?”
A mãe, que arrumava as coisas para ir trabalhar, respondeu: “Não há nada diferente lá. Por que...?”
Tommy saiu correndo para cozinha. Tudo parecia brilhar. Brilhava. Sim, havia algo diferente naquela cozinha e havia sido criado pela sua imaginação.
Foi para escola e quando retornou, deixou suas coisas pelo caminho e foi até a cozinha. Estava do mesmo jeito. Era o céu, e ele talvez um anjo.
Tommy estranhou por um momento, pois somente a cozinha ficava diferente. Tentou fazer o mesmo com outros cômodos da casa, mas nada acontecia. Contentou-se: “Vai ver essa coisa de imaginação funciona aos poucos.”
O dia inteiro ele entrava e saía da cozinha. Como estava feliz! Agora seus amigos não o esnobaria. Quando a mãe chegou do trabalho, encontrou Tommy na cozinha com um brilho no olhar e um sorriso enorme no rosto.
“O que aconteceu para estar tão feliz assim?”
“A cozinha, mamãe! A cozinha!”
“Ah, sim. Lembrei de uma coisa: de manhã você me perguntou se havia algo diferente na cozinha. Tinha me esquecido que pediram para seu pai testar esta nova lâmpada. Ela tinha que ficar o dia todo acessa, porque ouve muitas reclamações lá na empresa. Num é legal essa lâmpada? É um tipo novo. Ilumina mais que as fluorescentes. Custam um absurdo. Iluminam mesmo, não é? Parece até que estamos no céu.”
A campainha soou. A mãe se retirou para atender. Tommy permaneceu ali, decepcionado. Um lágrima escorreu até o canto da boca que não mais formava um sorriso. Ficou ali, em estado de choque. Imaginando seus amigos apontando na cara e rindo. Imaginando-se um adulto frustrado. Imaginando como a vida seria diferente se soubesse imaginar. Imaginando como seria bom ter imaginação. Imaginando, sem perceber que imaginava.


Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Destino errado

Entrei no ônibus com um sensação estranha. Enquanto procurava meu acento, ouvi uma senhora (que falava muito alto, por sinal), dizer para a que estava a seu lado: “estou indo para cidade 'tal', você conhece?”. Ela nem esperou a outra responder (e bem que ela insistiu, pois parecia ter algo importante para dizer, mas não adiantou nada) e continuou a tagarelar. Sentei-me tentando absorver o que ela havia dito. Aquilo me intrigou. Afinal se ela estava indo para a cidade “tal“, quando o ônibus chegasse a um ponto ele seguiria outro rumo, logo, não iria para onde eu achava que estava indo (“meu destino”). Pronto. A sensação ruim vinha daí: tinha embarcado no ônibus errado. O motorista, não lendo minha passagem corretamente, não percebeu.
Nisso o ônibus já estava na estrada. Sim, entrei em pânico. Meu coração estava acelerado. Não me mexia. Já imaginava a situação constrangedora: eu me levantando, gritando para o ônibus parar, tropeçando na mala, todo mundo olhando para mim e alguém dizendo: “que idiota, como ela conseguiu pegar o ônibus errado?”.
Mas enquanto eu imaginava um reação que talvez nunca aconteceria, o ônibus havia chegado no ponto onde eu teria a confirmação do meu erro. Meu corpo já foi virando sem mesmo o automóvel fazer a curva. Aliás, ele não fez a curva. Continuou pelo caminho de sempre. Mal eu soltei o fôlego, aliviada, aquela senhora, que não havia se calado por um instante (sim, eu ainda a ouvia enquanto avaliava minha situação), levantou-se e ficou muda por um momento (que para ela era muito). Mas logo se pôs a gritar: “Motorista! Motorista! Pára o ônibus!”.
Desesperada ela pegou seus pertences e dirigiu-se apressadamente para a frente, nisso tropeçou numa das malas. Todo mundo a olhou, inclusive eu. Não sei se ouvi ou se foi minha imaginação, mas uma voz soou: “que idiota, como ela conseguiu pegar o ônibus errado?”


Tais Carla B. Cassemiro