domingo, 28 de outubro de 2007

O culpado

A polícia deixava a mansão dos Wycliffe levando com eles o mordomo, agora algemado.
Momentos antes estavam o detetive, Sr. e Sra. Wycliffe, o assistente do detetive, os empregados e o mordomo reunidos na sala principal. Discutiam sobre o assassinato da avó de Madeleine.
— Analisei as pistas cuidadosamente, minha cara senhora. E todas foram uma a uma eliminando os suspeitos para chegar a apenas um culpado!
Todos permaneceram calados, apenas a Sra. Madeleine se manifestou:
— Então diga, detetive! Não vê que estou aflita? Diga quem assassinou minha pobre avó?
— Ora, ora, minha cara. Quem mais poderia ser?
Com dedo indicador apontou para Alfred, o
mordomo da família.
— Foi ele!
Todos o olharam surpreendidos. Madeleine perguntou aos prantos.
— Como pôde fazer isso, Alfred?
O mordomo permaneceu calado e Madeleine, vendo que não conseguiria nada de Alfred, perguntou ao detetive:
— Como chegou até ele? Alfred não tinha motivos, era tratado como um membro da família.
— Senhora, não foi muito difícil, afinal ele é o mordomo.
Nessa hora, Alfred olhou para Sra. Wycliffe e disse com um ar de Lord inglês, embora não o fosse:
— Ora, madame, por acaso é tão ingênua a ponto desconhecer que nos grandes crimes de assassinato entre famílias nobres, o culpado é sempre o mordomo? (Alfred tinha conhecimentos de muitos casos em que o assassino era o culpado – ficção ou não. Era praticamente um especialista).
Finalizou com uma risada esnobe.
Todos estavam perplexos com a frieza de Alfred.
Na cela fria e úmida ele olhava a lua cheia e pensava na vida. Pensou tanto que, de repente, sua expressão mudou.
— Mas... não foi eu!
Enquanto isso, na mansão, um sorriso de satisfação pousava nos lábios do Sr. Wycliffe.
by Tais Carla B. Cassemiro

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sem explicação

Meu nome é Luísa.
Tenho 27 anos.
Sou solteira.
Sou personal trainer.
Freqüento os “Alcoólicos Anônimos" há seis meses.

Meu apartamento não é muito grande, nem muito pequeno, é ideal para alguém que mora sozinha como eu. Nos últimos dias uma cena tem se repetido: Geralmente chego do trabalho e vou tomar banho. Enquanto ensaboou meu cabelo, ouço o barulho da maçaneta, que tranquei antes de ligar o chuveiro. Parece que alguém tenta entrar ou sair. Abro os olhos, uma vez fechados devido a espuma que escorre pela testa. Fecho-os novamente, estendo o braço e pego a toalha. Limpo-os e olho em direção a porta. Nada nem ninguém. Continuo a lavar os cabelos. Mas uma vez parece que alguém tenta abrir a porta. Mas não há nada nem ninguém até onde posso ver. Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha. Vou até a porta, a destranco. Pergunto se há alguém ali. Silêncio. Ando pela casa. Vazia. A porta do apartamento está trancada. Esqueço aquilo e continuo com minha rotina. No outro dia acontece a mesma coisa. Às vez sim, às vezes não: entro no banho, ouço mexerem na maçaneta, procuro por alguém. Pergunto se há alguém ali. Ninguém responde. Não há ninguém ali para responder. Foram dias assim. Pensei muito sobre essa situação.

Meu nome é Luísa.
Tenho 27 anos.
Sou solteira.
Sou personal trainer.
Voltei a beber.

by Tais Carla B. Cassemiro