sexta-feira, 19 de setembro de 2008

(Des)Jejum

Estér acordou às 4 da manhã, tomou banho, checou a agenda minuciosamente e depois se dirigiu para a cozinha. Lá, pegou a farinha, os ovos, o leite, o fermento, o açúcar, a essência de baunilha, bateu tudo e levou ao forno. Após 40 minutos, o bolo estava assado. Ela o cobriu com chantily e o enfeitou com morangos. Estendeu uma linda toalha na mesa 5x2 e colocou o bolo no centro. Depois colocou um pão de fôrma, pequenos pães franceses, torradas, manteiga, margarina, queijo, marmelada, goiabada, café, chá, leite, chocolate em pó, geléias de amora, framboesa e damasco, pegou algumas maças, pêras, uvas, bananas, mamões, um abacaxi, um melão, pinhas, lichias, atemóias e pêssegos ; não se esqueceu do suco de laranja, nem do de melancia, muito menos do iogurte que ela mesma havia preparado no dia anterior; os talheres, os pratos brilhavam com os raios de luz que gentilmente penatravam pelas janelas da cozinha.

Pronto.

Ela parou diante da mesa e sorriu orgulhosa. Contemplou sua obra de arte por alguns minutos. Quando olhou para o relógio, eram 7:15h. Foi até o quarto, pegou a bolsa e saiu.

Estér era uma mulher de 32 anos, pesava 51 kilos, media 1,68m , era divorciada, não tinha filhos, nem gato, nem cachorro, muito menos papagaio e no momento se dirigia para o seu exame de sangue, que havia anotado e notado na agenda, em que também se encontrava escrito por ela mesma: "Comparecer às 8 :00h em jejum!"

domingo, 7 de setembro de 2008

Barriga de interesse

Ela era muito bonita; morena dos olhos verdes, 1,74m. Ele, bem, não tinha nada de especial; pagava para que saíssem com ele.
Um dia ambos se encontraram. Ingênua como ela era, caiu na lábia dele. Ele a pediu em namoro. No susto, Ela disse sim. Durante dois anos de namoro, Ela até tentou largar dele, mas Ele ajoelhava, olhava com cara de cachorro que caiu da mudança e ela não resistia. Foi então que um dia, Ela ficou grávida:
- Ele quis transar sem camisinha. Insistiu!
- Mas você nem usa anticoncepcional.
- Achei que não iria acontecer comigo. Sabe, esse tipo de coisa só acontece com o vizinho da gente.
- Mas você sabe que para alguém, o vizinho é você.
Ele morria de medo de perdê-la. Como alguém como Ele, sem forma, muito menos conteúdo, iria encontrar alguém como Ela? Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Ele engravidou Ela para tê-la de alguma forma pelo resto de sua vida.
Ele, não Ela.
Tempos estranhos esses, não!?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Suicídio

O último caso que resolvi foi o de um jovem, que mais tarde descobri que se chamava Orlando. Chegamos a seu apartamento por volta das duas horas da madrugada, após recebermos um telefonema da vizinha, que havia dito ter ouvido um barulho semelhante a um tiro. Ela não se equivocou. O rapaz se encontrava estirado no chão do corredor, próximo ao porão. No peito, o estrago que a bala lhe havia causado. Vieram os legistas. Vieram e se foram levando o corpo depois de tomarem os devidos procedimentos.
Não encontramos a arma nas primeiras horas. Assim, comecei a investigar sobre a vida do jovem para tentar resolver o caso. Talvez ele estivesse envolvido com pessoas perigosas. Tinha que começar a encontrar meus primeiros suspeitos.
Na noite do mesmo dia, encontraram a arma. Estava debaixo de uma pequena mesa no porão. Depois de investigarem tudo, chegaram a conclusão de que ele havia atirado no próprio tórax, e como a morte não foi instantânea, conseguiu jogar a arma em direção ao porão, fazendo com que caísse lá embaixo. Então, haviam concluído o caso. Porém não imaginavam que eu já havia encerrado o caso declarando ter sido homicídio.
- Como você sabia que ele havia se suicidado se ainda não tínhamos pista alguma? – perguntou um de meus colegas.
- Bem, foi muito simples. Estava pesquisando sobre a vida de Orlando. Conversei com várias pessoas. Amigos e inimigos. Descobri que ele era só, nem mesmo um gato lhe fazia companhia. Trabalhava em uma dessas lojas de fast food. Começava o expediente às 8:00h e terminava às 18:00h. Chegava em casa e só saía no dia seguinte quando tinha que ir trabalhar novamente. Nos dias de folga ficava em casa. “Ninguém entrava, ninguém saía”, segundo uma das vizinhas. Tinha uma alimentação leve, pois queria evitar futuros problemas no estômago. Dizem que nunca experimentou um dos produtos vendido em seu próprio local de trabalho. Não bebia, não fumava, não ia a festas, não comemorava o próprio aniversário. Não falava muito. Era educado, costumava a ajudar uma outra vizinha com as compras. Parecia ser boa pessoa. Andava de bicicleta para não poluir o meio ambiente. Não infligia nenhuma regra. Não sabia mentir. Não tinha ambição. Para ele, tudo estava bom do jeito que estava. Não namorava e nunca namorou. “Era virgem, e pagar por sexo, para ele, era pecado”, disse, digamos, a melhor amiga. Escutava Paula Abdul pelo menos uma vez por dia e não conseguia viver sem “A Liga da Justiça.”
- Sinceramente, não consigo ver nenhuma relação com o suicídio.
- Bem, olha a vida dele! Não foi à toa que ele se suicidou.