sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Dia de Chuva

Estava voltando do mercado quando começou a chover de repente. Como chovia muito parei embaixo da cobertura de uma loja de sapatos. Outras pessoas fizeram o mesmo. Dentre elas um homem alto, cabelos negros e olhos verdes. Era um verdadeiro deus grego.
Vi que a chuva não iria parar tão cedo, então aproveitei para fumar. Foi aí que notei que aquele homem me olhava. Depois de alguns minutos ele se aproximou e disse pegando o maço de cigarro:
— Me empresta seu isqueiro, por favor?
Emprestei e ele começou a conversar comigo. Enquanto conversávamos a chuva foi parando. Ele já ia se despedir quando seu maço caiu no chão. Ao se abaixar para pegá-lo, o isqueiro que estava dentro do bolso do casaco também caiu. “Te peguei. Era só desculpa para conversar comigo”, pensei. Meu ego inflou naquele momento.
A chuva parou de vez e o sol já dava o ar da graça. Ele disse tchau e quando já estava há alguns passos longe olhou para mim, apertou o isqueiro e em seus lábios eu li: “Não funciona”. Realmente não funcionou.
Dei um longo suspiro, parti para minha casa e, aos poucos, começou a chover novamente.
by Tais Carla B. Cassemiro

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

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Num mundo em que todos olham para o próprio umbigo,
Me pego olhando para o meu


By Taís Carla B. Cassemiro

sábado, 17 de novembro de 2007

Sonhos que acontecem

Júlio possuía um dom: tinha sonhos do que iria acontecer. Não era uma coisa que ele controlava. Simplesmente quando sonhava (não era sempre), acontecia. Muitas vezes seus amigos duvidavam, mas ele dizia: “Eu nunca erro. Nunca!”. E não errava mesmo.
Acontece que um dia sonhou que sua melhor amiga, Sara, iria morrer. Não sabia como nem a que horas exatamente, sabia apenas que dia iria ser. Ele contou para ela, mas nem ela, que já tinha visto do que Julio era capaz, acreditou. Ele insistia desesperadamente: “Acredita em mim, por favor. Você sabe que eu nunca erro. Nunca!.”
Veio o dia que era para o sonho acontecer. Veio e já estava indo embora. E nada tinha acontecido. Júlio ficou o dia inteiro com Sara. Tudo estava na perfeita ordem. Era quase meia-noite, e os dois assistiam a um filme comendo pipoca que Sara tinha preparado, e bebendo suco que Julio havia batido. De repente Sara virou para Julio e disse: “É Julio, parece que dessa vez você erro...(tosse). Olha... só (tosse) eu aqui inteiii...ri.. (tosse)... nh...”. Não conseguiu completar a frase porque afinal de contas, Júlio nunca errava.

Nunca!
by Tais Carla B. Cassemiro

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Na esquina, eis a minha sina

Duas baratas se encontraram perto da entrada de um esgoto depois de muito tempo sem se verem. Ali mesmo ficaram horas e horas conversando: os baratos que tiveram, como as coisas não são tão baratas como antigamente, graças à globalização. Enfim, coisas muito interessantes... para baratas, é claro.
Depois de muito conversarem, uma descobriu o quão depressiva a outra era.
“Vou me matar”, dizia uma.
“Não diga isso, tudo ficará melhor”, dizia a outra.
“A vida num tem sentido”, dizia repetidamente.
“Não fala uma coisas dessas”, a outra tentava acalmar a amiga.
E continuaram com aquela discussão por muito tempo: uma com idéias suicidas, a outra tentando mostrar que a vida valia a pena. Estavam tão distraídas que nem percebiam o ir e vir das pessoas.
Foi o dia, veio a noite, e ali estavam elas discutindo. Tanto foi a insistência de uma que a outra esqueceu a besteira de suicídio. Não iria mais suicidar e tinha esperanças com relação à vida. Despediu-se da outra e agradeceu pela ajuda.
E assim ela partiu para casa; realmente estava bem melhor.
Ao dobrar a esquina, sumindo da vista da outra ...

Crack!

by Tais Carla B. Cassemiro