domingo, 10 de junho de 2007

Imaginação

Tommy era um garoto pequenino. O cabelo era negro como a noite e os olhos verdes como a grama num dia de primavera. Mas o que mais chamava a atenção em Tommy era que, diferentemente das outras criança, ele não tinha imaginação. Por isso, outros garotos de sua idade não viam graça em brincar com ele.
Aconteceu que um dia, ao entrar na cozinha para tomar o café, era como se tivesse entrado num outro universo. Pensou estar no céu. Estava deslumbrado pela sensação que aquele ambiente lhe causava. Parecia ser um mundo mágico. Aquele cômodo estava claro, branquinho como nunca esteve antes.
Tommy se iluminou: “Só posso estar imaginando. Deve ser assim que isso funciona.”
Para confirmar sua teoria, correu até sua mãe e perguntou: “Mamãe, tem alguma coisa nova na cozinha?”
A mãe, que arrumava as coisas para ir trabalhar, respondeu: “Não há nada diferente lá. Por que...?”
Tommy saiu correndo para cozinha. Tudo parecia brilhar. Brilhava. Sim, havia algo diferente naquela cozinha e havia sido criado pela sua imaginação.
Foi para escola e quando retornou, deixou suas coisas pelo caminho e foi até a cozinha. Estava do mesmo jeito. Era o céu, e ele talvez um anjo.
Tommy estranhou por um momento, pois somente a cozinha ficava diferente. Tentou fazer o mesmo com outros cômodos da casa, mas nada acontecia. Contentou-se: “Vai ver essa coisa de imaginação funciona aos poucos.”
O dia inteiro ele entrava e saía da cozinha. Como estava feliz! Agora seus amigos não o esnobaria. Quando a mãe chegou do trabalho, encontrou Tommy na cozinha com um brilho no olhar e um sorriso enorme no rosto.
“O que aconteceu para estar tão feliz assim?”
“A cozinha, mamãe! A cozinha!”
“Ah, sim. Lembrei de uma coisa: de manhã você me perguntou se havia algo diferente na cozinha. Tinha me esquecido que pediram para seu pai testar esta nova lâmpada. Ela tinha que ficar o dia todo acessa, porque ouve muitas reclamações lá na empresa. Num é legal essa lâmpada? É um tipo novo. Ilumina mais que as fluorescentes. Custam um absurdo. Iluminam mesmo, não é? Parece até que estamos no céu.”
A campainha soou. A mãe se retirou para atender. Tommy permaneceu ali, decepcionado. Um lágrima escorreu até o canto da boca que não mais formava um sorriso. Ficou ali, em estado de choque. Imaginando seus amigos apontando na cara e rindo. Imaginando-se um adulto frustrado. Imaginando como a vida seria diferente se soubesse imaginar. Imaginando como seria bom ter imaginação. Imaginando, sem perceber que imaginava.


Tais Carla B. Cassemiro

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